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Criptomoeda da Eficiência Energética chama atenção no mercado

No dia três de dezembro foi lançada a criptomoeda WOZX, do co-fundador da Apple, Steve Wozniak, em associação com um grupo italiano atuante na eficiência energética há mais de 10 anos. O preço da moeda foi de 10 centavos a 3,48 USD na primeira semana, uma valorização acima de 3.000% (30x). Somente uma pequena parte das moedas foi emitida, mas para todo o estoque previsto seriam 3 bilhões e meio de dólares. Após o frenesi inicial, o preço já recuou 50%, tende a baixar mais e seguir oscilando bastante de acordo com as notícias, como é comum neste universo.

Moeda virtual, desafio real

A operação viabilizou a primeira etapa de crowdfunding da Efforce, cuja promessa é nada menos do que revolucionar o mundo da Eficiência Energética. Eles querem democratizar o acesso a investimentos em equipamentos e processos para a redução do consumo de energia.

A plataforma, que ainda não está construída, vai permitir que empresas cadastrem necessidades relacionadas à Eficiência Energética. A equipe da Efforce vai validar os parâmetros dos projetos. Empresas de Serviços de Conservação Energética – ESCOs – credenciadas serão as executoras, e pessoas de qualquer parte do mundo poderão realizar investimentos nos projetos.

Ou seja, a Efforce realizou um crowdfunding para viabilizar o projeto de construção da plataforma de crowdfunding para viabilizar projetos de eficiência energética. Haja credibilidade!

Neste caminho longo entre conceito e realidade, há pelo menos 3 grandes desafios que valem alguns comentários:

1 – Retorno dos projetos de Eficiência Energética (e alocação dos riscos)

O documento introdutório da tese da Efforce (White Paper) dá como exemplo um projeto focado na eficiência energética de aviões. Todo o caso é baseado no volume de voos e tanques de combustível utilizados pela frota de 20 aeronaves de uma companhia italiana. É impossível ler as projeções do business case sem notar que 2020, no papel, fica ileso aos impactos da covid-19.

Cada um destes projetos trará riscos. O mercado “tradicional” de Eficiência Energética tem já suas fórmulas, mas também tem espaço para flexibilidade e negociações. O White Paper da Efforce está longe de abordar como qualquer risco será alocado, em especial para o investidor detentor da criptomoeda, tão distante que nem caberia falar em assimetria de informação.

2 – Garantir a confiabilidade das transações físicas registradas na blockchain

Diferentemente do que ocorre com o Bitcoin e outras moedas digitais, uma implementação blockchain cujas transações se dão no mundo físico tem uma fragilidade natural no ponto de conversão entre mundo real e digital. No caso da Efforce, este ponto é a própria mensuração da Eficiência Energética. Os empreendedores esclarecem que um de seus desafios foi integrar os medidores de energia diretamente à blockchain. Isso é ótimo! Mas, além dos desafios de globalizar esta solução, no próprio exemplo da frota de aviões, as informações de economia de energia já iam além da medição do consumo elétrico. Naquele caso, os insumos para cálculo da eficiência vieram do painel de instrumentação das aeronaves.

Como na maioria dos casos de “tokenização” de ativos físicos, por um bom tempo a confiança sobre os dados que tramitam na blockchain será dada por uma combinação de tecnologia e credibilidade das entidades envolvidas. É um ponto de atenção sobre as ESCOs com as quais a Efforce pretende realizar parcerias, e empresas de tecnologia que venham a integrar suas soluções.

3– Governança do emissor da moeda e distribuição do retorno

Apesar de todo o discurso tecnológico e de confiabilidade na implementação da blockchain, a realidade é que a criptomoeda tem muito mais a ver com a forma de captação de recursos para a empresa do que com a operacionalização dos projetos de Eficiência Energética.

A moeda WOZX não tokeniza diretamente a economia de energia. Ela dá aos detentores o direito de investir futuramente em projetos de Eficiência Energética viabilizados através da plataforma. Os investimentos nos projetos serão tokenizados em outra moeda, não por acaso uma “stablecoin”, criptomoeda com valor atrelado a um ativo mais estável.

O token digital é emitido nas Bahamas, em nome de uma empresa com sede em Malta. Sua comercialização é ilegal nos Estados Unidos. Pretende ser conversível em créditos para pagamento de contas de energia, mas por enquanto é aceito por poucas empresas de energia na Itália. As taxas de conversão para este pagamento de contas, a economia gerada ou qualquer ativo real não podem ser pré-definidos. Claramente, se algo der errado, o token será a primeira coisa a perder valor. Mas o ponto da governança é que, supondo que tudo dê certo, ainda haverá muita coisa a ser arbitradas pelo emissor (Efforce), que definirá o valor real de cada WOZX.

O próprio Steve Wozniak disse em entrevista ao Yahoo Finance que pensa nos tokens como em “shares of stock”, ou seja, participação nas ações da empresa. De fato, sua valorização oscila com a expectativa de sucesso da Efforce, como uma ação, mas não há vínculo patrimonial. Tampouco há regulamentações equivalentes às de uma CVM (Comissão de Valores Mobiliários) ou uma Lei das S.A.s, que estabelecem, por exemplo, direitos para sócios minoritários ou práticas mínimas de governança para regular conflitos de interesse intrínsecos de qualquer negócio. A empresa tem liberdade suficiente para compartilhar o retorno futuro com os detentores da moeda, ou deixá-los à deriva.

Por design, o investimento (que não seja puramente especulativo sobre o preço) na maioria das criptomoedas implica em uma grande confiança na boa intenção dos emissores. Algumas pessoas podem criticar esta falta de regulação, outras podem acreditar no alinhamento natural de interesses com os emissores. Eles tenderiam a promover um ambiente onde todos ganham, pelo menos no cenário de abundância que os projetos mais ousados sempre esperam alcançar. O fato é que estes emissores são totalmente responsáveis pelo equilíbrio de retorno entre as partes envolvidas.

Conclusão

Os desafios são enormes e as incertezas também. O fato da primeira emissão de moedas WOZX ter sido bem sucedida significa que a Efforce está capitalizada para a próxima fase. Contar com um dos fundadores da Apple eleva bastante as expectativas. É exatamente por isto que o projeto pode tornar-se o maior exemplo de que o crowdfunding por criptomoedas veio para ficar. Ou mostrar que, com ou sem boas intenções, o mecanismo é desequilibrado e o mundo precisa urgentemente de regulações fortes para proteger a massa de investidores com perfil apostador.

Particularmente, estou acompanhando o projeto e o preço. Enquanto escrevo está a um dólar e meio, apontando para baixo. Só precisa chegar a 90 centavos até o final do ano. É meu teto, com o câmbio a R$5,00. O bilhete para a Mega da Virada está R$4,50 e neste ano doido posso muito bem direcionar as apostas para a WOZXs. Não estou seguro ainda. É um ato de confiança nas pessoas. Me vejo emitindo uma moeda (DUSB? BARX?) e trabalhando duro para ver o arrependimento dos céticos. Penso em Steve Wozniak na Itália, em um pequeno café com vista para o Mediterrâneo, apreciando um espresso comprado com meu dinheiro. Fico contente se imagino seu grande rosto arredondado e sua voz fanha, nerd raiz, discutindo os próximos passos do nosso projeto. Será esta a mágica do crowdfunding?

 

* Danilo Barbosa é Diretor de Marketing e Produtos da Way2



Publicado em 6 de janeiro de 2021 / Procel Info


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