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Racionalidade e Eficiência nos Estádios de Futebol do Brasil

Na semana que marca o início do Campeonato Brasileiro, o Procel Info apresenta uma relação dos estádios que levam a sério questões ambientais e energéticas em sua operação

 

O Campeonato Brasileiro de futebol começa nesta semana com a realização das primeiras rodadas do Brasileirão em suas quatro divisões. Palco do esporte que é paixão de grande parte dos brasileiros, os estádios e arenas são edificações com grande impacto ambiental nas regiões onde estão inseridos, já que são estruturas geradoras de alto fluxo de pessoas, em curto espaço de tempo. Por esse motivo, a gestão ambiental de arenas esportivas tem ganhado cada vez mais espaço no Brasil.

Tendência iniciada nos preparativos para a Copa do Mundo de 2014, a busca constante pela sustentabilidade ambiental e operacional desses espaços está cada vez mais presente no dia a dia das estruturas esportivas, sejam elas novas ou reformadas. Estádios tradicionais já construídos, como o Maracanã, no Rio de Janeiro; o Mineirão, em Belo Horizonte; a Arena Castelão, em Fortaleza; e o Beira-Rio, em Porto Alegre; ou as novas edificações, como a Arena Grêmio, na capital gaúcha; a Neo Química Arena e o Allianz Parque, em São Paulo; e a Arena MRV, ainda em construção em Belo Horizonte, adotaram em suas reformas ou na construção uma série de práticas sustentáveis que vão desde a otimização da utilização de água e energia elétrica, passando pela utilização de materiais recicláveis e gestão e logística reversa de resíduos.

Primeiro estádio brasileiro a receber a certificação ambiental LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), oferecida pela organização Green Building Council, a Arena Castelão acabou sendo a principal referência para a adoção de soluções sustentáveis em equipamentos esportivos. Reinaugurado em 2012, após reforma para a Copa do Mundo, o estádio cearense priorizou durante toda a obra medidas que visaram ao uso racional de água, eficiência energética, uso de materiais de baixo impacto ambiental e estímulo a inovações.

Na área de eficiência energética, a Arena Castelão substituiu todos os aparelhos de ar-condicionado por modelos mais eficientes e econômicos com VRF (Fluxo de Gás Refrigerante Variável), opção mais sustentável em comparação com outras tecnologias disponíveis no mercado. O sistema de iluminação também foi trocado por equipamentos mais modernos, bem como os motores elétricos e reatores utilizados no espaço. Além disso, foram instalados sensores automatizados de presença, o que evita o desperdício de energia elétrica e proporciona uma economia anual de quase 13% em despesas com energia. Na cobertura do estádio, foram utilizados materiais que permitem altos índices de refletância da luz do sol, contribuindo, assim, para a redução dos impactos no microclima, diminuindo a formação das ilhas de calor e ampliando a utilização da luz natural. Somadas, essas medidas também contribuem para um menor consumo de energia. Reaproveitamento de água da chuva e automatização de torneiras, mictórios e irrigação do gramado também foram utilizados na arena cearense. Certificado como um ‘Estádio Verde’, o Castelão conseguiu reduzir em média em 50% o consumo de água e energia elétrica em comparação com uma edificação esportiva convencional.

Outro estádio referência em sustentabilidade é o Mineirão. A edificação possui o Selo LEED Platinum, mais alta classificação da certificação internacional, para o qual a estrutura esportiva teve que cumprir rígidos critérios de sustentabilidade desde a etapa de projeto, passando pela construção, manutenção e operação pré e pós jogo. A eficiência energética é um dos pilares do “novo” Mineirão. A arena possui, desde a reforma para a Copa de 2014, uma usina solar fotovoltaica que é responsável por grande parte da demanda de energia da edificação. Inaugurado no final de abril de 2014, o sistema é composto por cerca de 6.000 módulos fotovoltaicos e possui uma potência instalada de 1,42 MWp (megawatts-pico) com capacidade para abastecer cerca de 1.200 residências. A usina do Mineirão é a maior instalada em uma cobertura no país e uma das maiores instaladas em arenas esportivas no mundo. Sistemas de automação da iluminação e climatização com aparelhos de ar-condicionado de alta eficiência contribuem para a redução do consumo de energia nos dias com ou sem eventos programados para o estádio. Em relação à gestão da água, foram construídos reservatórios para armazenamento das águas das chuvas. Essa água é utilizada na irrigação do gramado, nos banheiros e na limpeza de áreas externas, o que proporciona uma economia de até 70% nas despesas com a conta de água.

Reformados para a Copa do Mundo de 2014, o Castelão, em Fortaleza, e o Mineirão, em Belo Horizonte, foram os primeiros estádios brasileiros a possuir a certificação LEED de edificação sustentável

Também com a certificação LEED, o Beira-Rio, em Porto Alegre, é outra referência em sustentabilidade em arenas esportivas. Maior estádio privado reformado para a Copa do Mundo, o estádio do Sport Club Internacional ampliou as suas ações sustentáveis após a realização do Mundial. No período entre 2015 a 2020, o clube, por meio de um projeto interno de gestão de energia, conseguiu reduzir pela metade o consumo de energia elétrica da estrutura do estádio. O clube também aderiu ao mercado livre de energia, passando a adquirir apenas energia de fontes renováveis, o que contribuiu para a redução em cerca de R$ 1 milhão dos custos com energia elétrica além da pegada de carbono do Gigante da Beira- Rio. Com essa sobra em caixa, o Internacional segue investindo em eficiência energética para ampliar os ganhos ambientais e atualizar as tecnologias embarcadas no estádio após a reforma para a Copa do Mundo.

Também utilizados na Copa do Mundo, a Arena Fonte Nova (em Salvador), o Estádio Nacional de Brasília, a Arena Pernambuco e a Arena Pantanal (em Cuiabá) são outros estádios que também adotaram iniciativas visando ao uso eficiente e/ou reaproveitamento dos recursos naturais, como a água, o sol e o vento, ao desenvolvimento de métodos que reduzam o consumo de energia elétrica e ao reaproveitamento dos resíduos utilizados nas construções.

Novos estádios já nascem sustentáveis

Idealizado para ser sede da abertura da Copa do Mundo de 2014, a Neo Química Arena foi construída para ter o que havia de mais moderno em termos de sustentabilidade. Além de um moderno sistema de iluminação de LED, o estádio do Corinthians também possui capacitores que evitam desperdício de energia, sistema de ventilação cruzada, o que permite uma redução na utilização de ar-condicionado, além de ter boa parte de sua energia gerada de fonte renovável por meio de uma usina de recuperação energética.

Rival do Corinthians, o Palmeiras também priorizou a sustentabilidade na reconstrução do antigo Parque Antártica. O atual Allianz Parque inovou na gestão de energia ao instalar um gramado artificial no seu campo de jogo. Além de reduzir o consumo de água para irrigação, a grama sintética também proporciona economia de energia elétrica, já que não é mais necessário a utilização de grandes e potentes refletores de iluminação artificial para compensar a falta de sol em partes do gramado. Somente com energia elétrica, esse processo proporciona uma economia anual de cerca de R$ 1 milhão na conta de luz do estádio, além da redução do impacto ambiental que envolvia a substituição de partes do gramado, que ocorria pelo menos três vezes ao ano. Ainda na questão energética, a fachada foi projetada para melhorar o conforto térmico dos usuários contribuindo para a redução dos sistemas de ar-condicionado. Reaproveitamento da água da chuva, e sanitários e torneiras com alta eficiência hídrica também contribuem para a sustentabilidade da operação do estádio do Palmeiras.

Palmeiras prepara retrofit luminotécnico e terá o primeiro estádio do país com iluminação do campo de jogo 100% a LED

Já em relação ao sistema de iluminação, a WTorre, empresa que administra o estádio do Palmeiras, anunciou recentemente a substituição de todo o sistema de iluminação do campo de jogo. A partir do segundo semestre deste ano, serão instaladas 180 luminárias LED de altíssimo fluxo luminoso, que vão proporcionar uma eficiência energética estimada em 54% em comparação com os atuais 274 refletores convencionais de vapor metálico. A nova tecnologia vai permitir o acendimento instantâneo das luzes, diferentemente das lâmpadas metálicas, que levam 15 minutos para chegar em seu funcionamento ideal. Levando-se em consideração os custos totais de operação e manutenção da iluminação do campo de jogo, o novo sistema será 73% mais econômico que o modelo atual.

Arena MRV pretende ser o estádio mais sustentável do Brasil

Com previsão de ser inaugurada no primeiro semestre de 2023, a Arena MRV, estádio que está sendo construído em Belo Horizonte para sediar os jogos do Atlético Mineiro, se inspirou nas melhores práticas sustentáveis já implementadas em equipamentos esportivos para ser uma edificação 100% ecológica. De acordo com o projeto, passando pelo canteiro de obras e a futura operação, o estádio pretende ser o mais sustentável do Brasil.

Com cerca de metade da obra já concluída, a construção utiliza o conceito de ‘canteiro de obras limpo’, no qual são utilizadas estruturas metálicas e de concreto pré-fabricadas, o que evita a produção de resíduos indesejáveis e o desperdício de materiais, reduzindo o tempo de obra e, consequentemente, gastos com água, energia e descarte de resíduos.

Em relação à utilização de recursos hídricos, um reservatório com capacidade de 1 milhão de litros está sendo construído para armazenar água da chuva, que, após tratamento, será utilizada na limpeza e irrigação do estádio. Aliado ao sistema de aproveitamento de água pluvial, o sistema adotado para a cobertura do estádio é uma das principais medidas de sustentabilidade a ser incorporada, já que a estrutura, além de direcionar a água da chuva para os reservatórios, também terá em sua composição elementos que garantirão o conforto térmico e acústico ao público interno e externo.

“A adoção de dispositivos hidráulicos economizadores de água é fundamental para a sustentabilidade das edificações, não apenas por uma questão de sustentabilidade econômica, mas porque isso ajudará a preservar este recurso natural”, informou o Clube Atlético Mineiro por meio de nota.

Em relação à gestão de energia, a arena do Atlético Mineiro possui uma estratégia dividida em três pilares: 1) paredes e lajes da cobertura de áreas condicionadas artificialmente com isolamento adequado, o que reduz a necessidade de uso de ar-condicionado nestes espaços nos dias quentes; 2) uso de sistemas eficientes de condicionamento de ar com altos coeficientes de desempenho e isolamento da tubulação do sistema de forma a não se reduzir a capacidade de refrigeração por trocas excessivas de calor; 3) uso de tecnologia LED em todo o estádio, o que deve proporcionar altíssima eficiência energética com redução significativa da potência instalada para iluminação em relação a sistemas convencionais, ou seja, aproximadamente metade da potência instalada se comparado com um sistema considerado eficiente tradicional.

Sobre o sistema de iluminação, a Arena MRV pretende ser um dos primeiros estádios do Brasil a ter a iluminação esportiva do campo de jogo composta exclusivamente por equipamentos com tecnologia LED. Nas demais áreas, serão utilizados somente lâmpadas de LED para a iluminação artificial, temporizadores para dispositivos de iluminação, sensores de presença para controlar a iluminação e climatização dos ambientes e aquisição somente de aparelhos elétricos de alta eficiência energética, sendo priorizados os com o Selo Procel de Economia de Energia ou etiqueta equivalente.

Ainda em construção, estádio do Atlético Mineiro prioriza a adoção de soluções sustentáveis e aquisição de aparelhos com o Selo Procel ou etiqueta equivalente

Já sobre a envoltória, a casca (fachada externa) da Arena fornece um ambiente interno bastante sombreado, e o sistema de vedação permite a ventilação dos espaços de circulação, aumentando o conforto térmico dos espaços internos. A cobertura também terá, em sua composição, elementos que garantirão o conforto térmico e acústico ao público interno e externo.

Sistemas de automação predial e gestão remota também contribuem para a eficiência operacional de toda a estrutura do futuro estádio do Atlético Mineiro.

“O sistema de automação e controle digital funciona como o cérebro dos diversos sistemas que compõem a estrutura ‘nervosa’ do empreendimento. Os comandos e controles são centralizados em um único ambiente, propiciando aos responsáveis pela operação o controle, em tempo real, do acionamento e desligamento dos diversos sistemas. Os sistemas vão operar, em sua absoluta maioria, de forma automatizada, minimizando a possibilidade de interferência humana nos processos e, consequentemente, a possibilidade de ações que gerem erros e desperdício de recursos”, completa o clube.

Estádios antigos também podem se beneficiar de novas tecnologias

Com a Copa do Mundo, criou-se o paradigma de que, para se ter um estádio sustentável, era necessário construir uma edificação nova ou reconstruir totalmente uma já existente. A Arena da Amazônia, a Arena das Dunas, a Arena Fonte Nova e o Estádio Nacional de Brasília tiveram as estruturas antigas demolidas para a construção de uma nova edificação. Já o Maracanã, o Mineirão, e o Beira Rio passaram por uma grande reforma. Apesar de não ter havido a demolição total, houve uma grande mudança estrutural dos antigos estádios, o que proporcionou grandes investimentos nessas obras.

Com o passar dos anos e a evolução das tecnologias sustentáveis, e o maior acesso a elas, tornou-se possível estádios mais antigos incluírem essas soluções sem grandes reformas e mudanças estruturais.

Um exemplo disso é o Estádio Olímpico do Pará, também conhecido como Mangueirão. Inaugurado em 1978, o estádio sediado em Belém passa pela maior reforma em seus 44 anos de existência. Nessa reforma, a edificação irá receber uma série de soluções sustentáveis que inclui a instalação de uma usina solar e irá contar ainda com sistemas de captação e reaproveitamento de água da chuva.

Instalada na cobertura do estádio e sem alterar a sua arquitetura original, a usina solar terá 3.360 módulos fotovoltaicos capazes de produzir mais de 1,6 GWh por ano. A planta irá contribuir com a redução de mais de 5 mil toneladas de CO₂ na atmosfera ao longo de 25 anos, o equivalente ao plantio de mais de 20 mil árvores. A reforma também prevê a instalação de um moderno sistema de iluminação a LED do campo de jogo e nas áreas comuns do estádio, bem como aparelhos de climatização eficientes para minimizar os efeitos do forte calor da região amazônica. Também aproveitando o clima regional, estão sendo construídos reservatórios para armazenamento de água da chuva, que será utilizada para irrigação e limpeza. Com todas as novas soluções embarcadas, a expectativa é de que os custos operacionais sejam reduzidos em pelo menos 50% a partir do segundo semestre desde ano, quando a reforma deve ser concluída.

O Estádio Olímpico do Pará deve ser reinaugurado em setembro e pode sediar o último jogo da Seleção Brasileira antes da Copa do Mundo do Catar, que terá início em 21 de novembro.

 



Publicado em 6 de abril de 2022 / Procel Info, por Tiago Reis


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